quarta-feira, 23 de abril de 2014

E quando o amor acaba, o que sobra?



[sexta-feira, 2 de novembro de 2012*]
Nunca acreditei nessa onda de amor eterno. Muito embora, eu saiba que ele exista. Afinal, existe algo a que chamamos de "amor materno" (e a tira-colo, o chamado "amor paterno"). Mas, e entre aqueles que se encontram pela casualidade do destino? Pelos que peregrinam em busca da sua cara metade, sua alma gêmea, da tampa da sua panela? Ora, a estes resta o famigerado "que seja eterno enquanto dure".
Isso quer dizer que relacionamentos amorosos têm prazo de validade. Você pode até tentar protelar, mas deve assumir o risco de uma intoxicação grave a partir de então. O que antes era delícia vira veneno mortal. Daqueles que não deixa restar nada. Apenas um cemitério de desilusões, onde jazem na eternidade diversos amores que um dia se afirmaram infinitos.
 
O amor, esse amigo da onça, sempre nos deixa na mão. Nos abandona, à própria sorte sem dizer data nem hora. Ele que  chega chegando, se dizendo o maior de todos. O insuperável. 
Ora, grande ele pode até ser, mas não é dois. Ele une, mas não unifica. Ele é bom, mas não é eterno.
 
E quando ele se vai, o que sobra?
Na maioria das vezes, nada. Apenas um vazio que precisa novamente ser preenchido com generosas porções de uma nova safra de Amorus Levitantis. Sim, um amor novinho em folha que nos faça novamente levitar, suspirar, causar arritimia, sorrir à toa, cometer loucuras... e que obviamente... seja ETERNO.
 
*Ainda continuo pensando da mesma forma.
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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Ode à minha avó.




Das mulheres que passaram pela minha vida, uma das mais marcante foi sem dúvida a minha avó. Severa, impaciente e por vezes, até cruel. Esta era minha avó Adelina. Tia Délia, para os intimos e "confiados". 

D. Adelina foi uma daquelas pessoas a quem o destino reservou pouco amor. Retirada do seio da mãe foi entregue para ser criada como serviçal, a qual nem o prazer das letras foi concedido. Não conheceu o amor de mãe e nem o amor pelo saber. Cresceu e talvez na ânsia de se libertar, caiu em mais uma cilada da vida. Casou-se com alguém que lhe mostrou a face covarde da violência doméstica. Talvez num surto de desespero deixou para traz 3 filhos e as marcas de uma vida de gritos e intolerâncias. Trouxe consigo apenas a dor do remorso de ter largado a própria sorte os frutos de seu ventre. 
Coitada de minha avó! Hoje entendo que não se pode cobrar algo de alguém, algo que ela não possa oferecer. Como poderia minha avó ser amorosa com um passado marcado por tantos açoites? 

Um dia parece-me que a vida se apiedou de sua dor e lhe deu uma trégua, e lhe deu de presente meu avô, homem complacente e afeito ao trabalho e com quem terminou o resto de seus dias.
Contudo, se  lhe faltou amor para dar, experiência foi o que a vida deu-lhe de sobra. 'Me criaram burra, mas não vou criar ninguém burro" repetia ela por diversas vezes a me azucrinar os ouvidos e a me torturar com as temíveis sabatinas de matemática. 

Outra coisa que minha avó desejava era que eu me tornasse "moça prendada. Queria que no futuro eu me tornasse boa esposa e boa mãe.Coitada de minha avó, bem que se esforçou! Mal sabia ela que naquele corpo franzino e branquelo residia um espírito indisciplinado de cigana errante. Me ensinou crochê, tricô e ponto cruz. Por longas tardes ela me castigava a tecer sapatinhos de tricô ou crochê. Eu, criança tola de 7 anos, queria mais era brincar de casinha pelo quintal. E ela, austera como ela só, não deixava por menos: "só vai brincar depois que terminar!".
Na ânsia de me ver livre tão logo do castigo, me empenhava em tecer o mais rápido possivel e acabar com aquela tortura. Quando ela vinha inspecionar e notava algum ponto "aguado", frouxo, mal-feito ela se empenhava a desmanchar todo e me mandar tecer novamente. Até que ficasse trabalho "de gente e não de porco". Ahhhhhhhhhh, essa minha avó!!!!!!!


Hoje não sei tecer nem tricô, nem crochê, nem bordado. Nem sequer aprendi a costurar. Tampouco a cozinhar. É vó, perdoa por eu não ter me tornado uma boa mãe, muito menos boa esposa. Mas juro que aprendi a lição do sapatinho. Quando não tá bom é preciso desmanchar e fazer de novo não é? Tô tentando seguir o seu ensinamento. Hoje entendi que quando a nossa vida não estiver no ponto certo é só desmanchar e começar de novo, com mais paciência e boa vontade. Por isso vó, onde quer que a senhora esteja agora, obrigada pela lição! 


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