domingo, 31 de janeiro de 2010

Sem palavras para definir (II) ou A Revelação.


Ele chegou numa noite fria e de grande nevasca. E me me encontrou encolhida já quase sem forças para lutar contra as intempéries do tempo e da vida. Eu em meio àquele imenso nevoeiro não conseguia enxergar muito bem as coisas. E fiquei com medo. Medo de que tudo não passasse de uma bela e tão ligeira miragem. E então ele me disse que há muito havia escutado o meu pedido de socorro. E perguntei por que havia demorado tanto. E ele respondeu que as coisas acontecem no seu exato momento. Me falou que havia tentado mandar uma mensagem para me alertar, mas que por alguma interferência na Força, ela não pode chegar até mim. E então ele entendeu que deveria esperar o tempo certo. E assim o fez. Então perguntei a ele qual era a sua missão. E ele me respondeu que era me guiar para o caminho da esperança, por que seu mestre havia percebido que naquele momento eu poderia ser um alvo muito fácil para as Forças Sombrias. Que eu poderia por desespero me entregar. Eu então o abracei e pedi para que ele nunca mais saísse de perto de mim, ou ao menos, até eu aprender a andar totalmente sozinha. E ele disse que assim seria porque esta era a sua missão, mas somente com o tempo eu entenderia a grande mensagem enviada por seu Grande Mestre. O tempo se abriu permitindo que o sol brilhasse e irradiasse sobre mim os seus raios. Comecei a vislumbrar caminhos os quais antes eu nunca conseguiria enxergar. Era um novo tempo. Um tempo para eu plantar novas sementes, regá-las e esperar os frutos que elas poderiam oferecer. E assim o tempo passou. E na noite em que eu comemorava uma fértil colheita, fui surpeendida por uma visita silenciosa e amável que me peguntava:

- Você consegue perceber minha criança?

Tomada pela súbita emoção, eu não sabia nem ao certo o que responder. Mas me sentia extremamente honrada com aquela ilustre visita.

- Eu nunca lhe abandonei minha doce criança. Porque eu sempre confiei em você.

Então eu lhe perguntei por que os meus caminhos haviam sido sempre tão cheios de espinhos? Por que Ele havia permitido que eu me machucasse tanto? O porquê de tantas dores, tantos mal-entendidos?

Tranquilamente ele se pôs a me responder:

- Não pense se tratar de um prazer sádico de ver tantas e tantas almas atormendas e nada fazer por elas. Você pode achar que o mundo é imperfeito ou defeituoso, mas ele não é. Só está desequilibrado. Extremamente desequilibrado. E tudo isso é culpa de um outro Grande Espirito que assim como eu, anda solto pelo mundo espalhando suas travessuras. Ele faz isso para me atacar. Principalmente quando ele encontra algum espirito elevado. Então ele empenha todas as suas forças para enfraquecê-lo. Teme pelo aumento de meu exército. E por isso o mundo mostra-se desse jeito que você vê. Porque vagamos eternamente tentando desfazer as obras um do outro. Você deve estar se perguntando por que eu não o extermino de uma vez não é mesmo?
Mas acontece que assim como eu, ele também é um grande e poderoso mestre. Nasceu do mesmo ventre que eu. Sim, somos irmãos. Somos filhos da mesma Grande Mãe. E aliás, não se esqueça que somos espiritos, e como se sabe espiritos não morrem, apenas podem ser enfraquecidos.
É por isso que lhe enviei os anjos. Para que eles não permitissem que seu espírito enfraquecesse. Para que você não perdesse sua esperança que estava por um fio. O primeiro, ainda era um aprendiz, porém muito promissor. Será no futuro um grande arcanjo. Mas ainda precisa terminar seu treinamento. Este que agora lhe acompanha já é um anjo ordenado. E estará com você até quando terminar sua missão. Devo lhe dizer que estes não foram na verdade os primeiros. Eu já enviei outros que tão logo cumpriram sua missão, partiram. Podes entender agora?


Eu continuava atônita, mas agora compreendia muitas coisas. E Ele continuava, enquanto me presenteava com uma bela coroa de quartzo enfeitada com pétalas de rosas:

- Percebes que te fiz princesa entre plebeus? Fiz isso para testar tua força, tua nobreza. Fico feliz por teres aprendido muito. Aprendido a perdoar, a se arrepender e a não perder a esperança. Pode parecer "clichè", mas a paciência é uma das maiores virtudes do homem. Por isso, seja paciente sempre que alguma tempestade se aproximar. Feche os olhos e pense nas flores que nascem dos solos áridos ou dos pântanos putrefados; pense nas crianças prodígios que vencem a adversidade por meio de um grande talento; escute Vivaldi e Mozart; cante o amor através das canções açucaradas que você tanto gosta; aprecie o crescimento da pequena flor do seu jardim a qual você tem que regar dia após dia até se tornar uma bela roseira; Ajude aqueles que você puder ajudar, mesmo que seja com muito pouco. Isso é a vida. Ela é grande mestra. Por isso, entenda que a verdadeira sabedoria não se encontra nos tantos livros que você lê. Ela está contida neste grande livro feito deste fino e delicado papel e no qual você escreve todos os dias com letras invisíveis. Você entende?
E foi então que Ele se despediu, deixando um rastro luminoso de estrelas cintilantes sobre aquele que seria o meu reino. E então eu perguntei se algum dia eu o "veria" outra vez. E Ele respondeu que era muito provável que não. Se eu entedesse de verdade a sua mensagem, não haveria mais nenhuma necessidade. E partiu na sua eterna peregrinação, iluminando caminhos, levando esperança a corações tão necessitados e famintos.

E diante de tanta honra, tanta graça eu me curvava agradecida diante do grande espetáculo que é a vida.

5 comentários:

Carolina de Castro on 2 de fevereiro de 2010 às 18:32 disse...

Que lindo..
Já vivi algo semelhante, a noite na minha cama.
Quase q uma epifania (como diria Lispector).
Similar a um efeito de droga pou alcool. Mas eu estava bem sóbria.
Momentos como esse fazem valer cada miséria que vivemos.
Pra mim valeu.
Beijo grande

Anônimo disse...

Oh, Carmencita, tão bonito, tão onírico, tão real E tão... 'colorido de maravilha'!

Bises!

Anônimo disse...

PS- mulher bombril é uma expressão muito "horrorrível"! Vamos pensar em outra denominação!

Anônimo disse...

ps2- Acho que o coelho branco é hipertenso!

Madame Poison on 17 de fevereiro de 2010 às 06:08 disse...

Carolita e Anita: são estes momentos coloridos de maravilha que fazem valer a pena cada miséria que vivemos.

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