quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Sem palavras para definir


Hoje eu ia escrever um elogio à amizade. Mas algo inesperado aconteceu e acabou deixando os meus olhos encandeados. Sabe quando acontece algo que te deixa pululando por entre um turbilhão de ideias e no final acabamos não chegando à conclusão alguma? Pois é. Mas não era sobre essa história que ia falar. Até porque não tenho muito o que falar. Bom, deixemos para depois e voltemos à história do inicio.

Ontem eu lembrei de um dia de desespero. Eu lembrei de um dia em que eu pensei em chutar o pau-da-barraca, levantar a bandeira branca e dizer: eu desisto! Estava puta-da-vida com a vida. E eu fiquei pensando nessa estranha capacidade das coisas quando estão péssimas ficarem ainda piores. Eu queria bater em alguém, não sei em quem, mas talvez em Deus. E jogar na cara dele que esse mundo que ele construiu era uma grande porcaria. Você já viu um edificio ou um condominio ser construido em uma semana? Pois é, agora imagine construir o mundo. Só podia dar nesta coisa mal feita que a gente vê desmoronar pouco a pouco a cada dia. Até desabar de vez. E ai, todo mundo vai ficar olhando pro lado tentando achar um besta em quem jogar a culpa. Ora, o que você estava fazendo que não percebia as rachaduras do concreto? E você? E você aí? E você que está ai se escondendo? Estavam ocupados não é? É eu sei, eu também estava ocupada. Mas eu ouvia sempre alguns ruídos e sentia algumas gotas pingarem no meu rosto. Mas eu não entendo nada de engenharia, nem de arquitetura, nem de porra nenhuma. Eu não poderia fazer nada sozinha. Eu precisaria da ajuda de todos. Todos precisaríamos nos ajudar.

Um dia fui fazer uma reclamação. Aí alguns se viraram e disseram para eu parar com meus chiliques por que o mundo não feito num dia só. Então era pra eu ter calma, pra eu não me afobar. E parar de ficar reparando só nos buracos e falhas que ficassem insistindo em aparecer. Que era para eu agradecer pela casa que tinha e pela grande honra de ser uma de suas inquilinas.

Então eu deixei. E fui reparar em outras coisas. Fui reparar nos jardins, nos monumentos históricos, na boa literatura, nas risadas entre bares e amigos e tudo o mais o que pudésse me despertar interesse. Ai eu não reparei mais nas crianças esfomeadas, nas inocentes vítimas de catátrofes naturais e humanas, na pedofilia...não eu não reparei mais em nada.

Até que um dia a casa caiu. A minha casa. Tá, tudo bem, a de outros vizinhos também haviam caído. Mas eu tinha que primeiro juntar os meus cacos né? Curar minhas feridas, ver o que ainda podia ser aproveitado...depois eu ajudaria. Juro que ajudaria.

Mas não, ninguém tem paciência e na primeira oportunidade querem logo puxar o teu tapete. Pois é, eu fiz uns curativos provisórios e voltei para ajudar. Não aceitaram. E ainda tiveram o disparate de dizer que eu tinha feito só o projeto, mas não tinha construído nada. Mas ficaram com meu projeto. Canalhas. E eu sai estupefada, com as feridas mais abertas do que já estavam.

Mas um anjo apareceu. E me conduziu novamente para o caminho da esperança. Disse para eu não entregar os pontos já que eu tinha lutado tanto pra chegar até ali. E disse que eu parecia uma menina emburrada. Nunca havia me visto daquela maneira. Era a garota dos sorrisos fáceis e sempre com uma tirada na ponta da língua. Então ele se pôs a me contar um pouco da sua história. Nela havia alguns dramas familiares. Não chegavam a serem tragédias monumentias, mas de maneira alguma deveriam ser desmerecidas. E nós ficamos por horas sentados num banco de praça. Tomando sol na cara e dizendo pra fome esperar. Algumas horas depois já estavamos rindo de nossas quedas. E engendrando filosofias de praça. Histórias que se cruzavam. Por algum motivo, se cruzavam. As horas passaram, os personagens haviam mudado e nós ainda estávamos ali na tentativa de encontrar soluções úteis para uma vida fútil. Ai resolvemos sair para procurar alguma coisa útil para comer. E pelo caminho não páravamos de falar e falar. Ao chegar ao centro de (f)utilidades públicas, sentamos. Escolhemos e continuamos falando e falando. Perdemos, aliás ganhamos, mais algumas horas falando de cinema e de como Closer é fantástico. Fantástico por ser simples, banal. Ai então ele me falou de seus sonhos também fantásticos. E eu falava dos meus gostos trashs. Nem lembrávamos mais da raiva insistente que queria dominar minha alma. Mas era chegada a hora da partida. Ele tomou seu rumo eu o meu. Mas foi então que eu tomei a decisão de voltar e mostrar minha capacidade àqueles canalhas sem criatividade. E só no final, com o sentimento de dever cumprido, cheguei e disse: agora sim, vou embora! E fui...


Algum tempo depois outro anjo apareceu. Mas esta já é outra história...


4 comentários:

Tarzys Reis on 28 de janeiro de 2010 às 07:52 disse...

E são esses desencontros, que parecem mais um encontro, que fazem com que possamos seguir em frente, coisas boas não surgem apenas de um lado, é principalmente uma troca.

Carolzinha on 29 de janeiro de 2010 às 05:29 disse...

Respirar...contar até rês...e dar uma chance para o anjo.
No final tudo dá certo, e o universo conspira a seu favor.
Acredite!
Beijos

Carol
http://rabiscosdehoje.blogspot.com

Anônimo disse...

Haha! A "pululante-encandeante" mandou dizer que anjos existem sim, e aos quilos! E eles sempre têm um vento de paz pra soprar em nossos rostos cansados e desconfiados. E closer é mesmo banal. Banal e tão real que dá medo de confundir o que é vida e o que é tela ...!

Madame Poison on 1 de fevereiro de 2010 às 11:41 disse...

"Ela acreditava em anjos, e porque acreditava, eles existiam"(C. Lispector)

Citei porque achei a frase demasiadamente oportuna.

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